Faroeste no ‘Poeira’ era uma grande festa

O escritor Emerson Rogério Oliveira, nascido em Urupema e hoje radicado em Porto Alegre, foi muito feliz ao relatar, no livro Trincheiras Abertas (edição 2007), as lembranças do “Poeira”, antigo cinema de Lages, que funcionou nas instalações do históricoTeatro Carlos Gomes, localizado na rua Nereu Ramos.

Emerson, hoje capitão reformado do Exército brasileiro, relembra, no capítulo “Os bons tempos de Guri”, que o “Poeira, nas tardes de domingo, era uma grande festa: ...só passava ‘farvestão’ daqueles com ‘mocinhos’ como Rocky Lane, Zorro, Roy Rogers, Tarzan, Gene Autry...”. Era sempre uma luta entre heróis, índios e bandidos, “sob uma ruidosa torcida de gritos, aplausos e sapateados”.

E nessa divertida movimentação na sala de cinema, a qual tinha piso de madeira, afirmam aqueles que vivenciaram essas emoções, que levantava, literalmente, uma “nuvem de poeira”. Assim, a partir do final da década de 1950 o apelido “Poeira” substituiu, popularmente, o nome do histórico“Cine Teatro Carlos Gomes”.

Na fila a gurizada vendia e trocava gibis e desse entrevero de negócios e do empurra-empurra para adentrar à sala do cinema, “era certo que saia uma briga das boas”. A sessão matinê no “Poeira” tinha também episódios reais “tragicômicos”, relatados no histórico capítulo do Trincheiras Abertas: os ‘pelados’ tentavam ‘furar’ a bilheteria invadindo terreno vago ao lado e pulando um muro de uns quatro metros de altura e dali acessando o corredor do banheiro do cinema. “Aqueles que entravam mancando, por ter torcido o pé ao pular, eram desovados (pelo guarda) no meio da rua, não sem antes levarem uns cascudos”.

Mas isto não impedia que no próximo domingo, a gurizada estivesse novamente pronta para assistir aos filmes, “pois não havia nada nesse mundo que fizesse algum guri desistir dessa maravilha que era a matinê no “Poeira”.

O Teatro Carlos Gomes foi fundado pelo português Mário Augusto de Souza em 1939, empresário que apostava no ramo das artes teatrais e cênicas. Já no ano de 1947 ele construiria o Cine Teatro Marajoara (projetado pelo arquiteto lageano Ludwig Wolfgang Rau). No Marajoara, em 1976, realizou-se a primeira e única edição do Festival Brasileiro de Cinema (precursor do Festival Nacional de Gramado).

Texto: Iran Rosa de Moraes

Fotos: Acervo Museu Histórico Thiago de Castro